quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Abaixo a hipocrisia

POR : Jurandi Frutuoso
Médico Sanitarista e Secretário Executivo do Conselho de Secretários de Saúde.


O Brasil, de repente, descobriu ter dois doentes, o ex-presente Lula e o SUS. Para o primeiro toda atenção merecida; para o segundo apenas a exposição do diagnóstico. Quanto ao tratamento… Vamos pensar!..
Essa discussão eivada de preconceitos nos leva a uma certeza: somos ainda um país colonial quanto ao comportamento dos seus cidadãos. Se por um lado agredimos as pessoas na sua liberdade de escolha – o que diz, o que faz, ou onde quer se tratar – por outro separamos espaços de privilégios para quem pode pagar por um serviço mais qualificado (ex. educação e saúde); para os que depositaram seus impostos na conta do governo ofertamos a “senzala” como querem alguns.
Há nisso tudo um misto de raiva, desprezo e irresponsabilidade. Para construirmos um país justo e igualitário precisamos escalar o muro da nossa ignorância e prepararmos condições ideais para todos que aqui habitam. Dentre elas está o SUS, que mesmo duplamente desprotegido (pelo governo e pela população) consegue produzir bons resultados e ser reconhecido internacionalmente. Internacionalmente, eu disse!
Usemos as tintas gastas nessa discussão pueril para convencer os governantes de que temos a obrigação constitucional de construir um sistema público de saúde universal, integral, gratuito e de qualidade e à população da sua obrigação de lutar pelos seus direitos até conseguir o sistema de saúde desejado.
Todos os presidentes citados acima, inclusive o Lula, devem, e muito, ao povo e ao SUS. Ninguém merece padecer na porta de entrada de um serviço de saúde, ou pagar com a vida pela sua ineficiência. Todos querem o melhor quando ameaçados na sua integridade. O povo também tem o direito de pular a cerca da “senzala” e encontrar o lugar ideal para tratar dos seus problemas. Esse lugar é o SUS, se permitirem!
O SUS faz da prevenção à cura com as migalhas que sobram do banquete dos ricos, por que então não financiá-lo adequadamente e administrá-lo de forma a produzir os resultados esperados pela sociedade?
Que o presidente Lula trate seu câncer onde quiser, mas que o povo brasileiro tenha a garantia do acesso a serviços de qualidade quando precisar tratar o seu. Quanto aos revoltados que cada um canalize suas energias na elaboração de idéias voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população.
Deposito minhas esperanças na presidente Dilma. Não quero vê-la no rol dos insensatos.
PS: Vincent van Gogh não vendeu um só quadro em vida.

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